José Maria Martins

Blogue do advogado José Maria Martins

sábado, abril 07, 2007

A Queda dum Anjo

Camilo Castelo Branco na obra "A queda dum anjo" conta-nos a penosa safra moralista do Morgado de Agra de Freimas, o senhor Calisto Eloi de Silos e Benevides de Barbuda.

Homem estudioso, mestre em grego e falante de francês. Um estudioso dos clássicos.

Neste tempo Pascal convém lembrar esta obra enorme da literatura portuguesa:

É mister começar pelos preparativos da partida para Lisboa do nóvel deputado, em 1864. Então foi assim a preparação:

"Principiou, desde logo, o morgado eleito a refrescar a memória com as suas leituras de história grega e romana.Era isto estroinar ciência e enfeixar flores para o Parlamento. Depois, releu a legislação dos bons tempos de Portugal, a fim de restaurar os costumes desbaratados, fazendo remoçar as leis, que haviam sido o tabernáculo da moral humana guardado pelo temor de Deus.Tosquenejou muitas noites sobre bacamartes pulvéreos; e , desde que a manhã raiava até horas de almoço, ia à margem do Douro que lhe lambia a ourela da quinta ,declamar, como Demóstenes nas ribas marítimas , ao estridor de um açude e das rodas de duas azenhas. Os moleiros, que o viam bracejar, e lhe ouviam o vozeamento ,benziam-se, pensando que o sábio treslera ou coisa má lhe entrara no corpo.A Srª D. Teodora Figueiroa vendo o marido assim tresnoitado, seguia-o às vezes, de madrugada, espreitava-o de um cabeço sobranceiro ao rio e benzia-se também, dizendo: "Dão-me com o homem em doido!".
Chegou o momento de partir para a capital.
O deputado mandou adiante por almocreve duas cargas de livros, nenhum dos quais tinha menos de cento e cinquenta anos.
Seguia-se, na conduta dos machos portadores, uma carga de presunto e orelheira substância quotidiana da alimentação e Calisto Eloi.
Depois, outra carga de ancoretas de vinho velho e na entrecarga uma garrafeira com duas dúzias de garrafas de vinho, que competia em antiguidade com a fundação da companhia."
A guarda-roua do procurador dos povos era modesta, salvo o chapéu armado, calção de tafetá e espadim, com que ele, na qualidade de fidalgo cavaleiro, costumava contribuir para a magestade das procissões de Miranda, egando ao pálio.".

(Continua).

Assim se estuda em bom português.