José Maria Martins

Blogue do advogado José Maria Martins

segunda-feira, setembro 18, 2006

Uma Ideia Sobre Desenvolvimento - A Questão Agrícola

A minha mãe dizia-me sempre "Fia-te na virgem e não corras".

Queria ela dizer com esse dictado português que nós devemos acreditar em Deus mas trabalhar para merecer, porque Deus só ajuda quem porfia.

Portugal não pode desperdiçar um mm2 de terra para a fazer produzir. Em primeiro lugar qualquer Estado deve fruir as suas potencialidades. Na agricultura, por exemplo. Qualquer Estado que não use as terras para produzir alimentos está a hipotecar o seu futuro.

Portugal é um deserto. As terras estão de "pousio". Os senhores das terras querem os subsidios e não produzir.

A União Europeia não nos proibe, nem podia , de produzir os alimentos que necessitamos.

Mas Portugal não usa as suas terras aráveis para produzir alimentos, para ser auto-suficiente em termos alimentares.

Temos de importar. Temos de enriquecer os agricultores de outros países que produzem para o seu Estado e para exportar.

Está mal.

Neste fim de semana fui obrigado a ir a Lyon , em França, onde faleceu o meu irmão.

Fiquei maravilhado. Espanha produz mesmo nas montanhas velhas de Navarra, na zona de Saragoça. Ali, num meio onde imperam as montanhas velhas, os espanhóis até no cume delas plantam pomares de pessegueiros, de marmeleiros, de toda a sorte de fruticulas.

Kilometros e Kilometros de pomares, de milharais, de olivais.

Todos os bocadinhos de terra são usados, semeados.

Mesmo nas montanhas de Navarra há sistemas de irrigação, nos sitios mais impensáveis.

E em Portugal? Um deserto!

Vamos de Lisboa a Évora e nada vemos semeado. Vamos de Lisboa a Faro e nada , ou muito pouco ,vemos semeado.

O que se passa? Que virus da preguiça atinguiu os nossos agricultores? O que faz o Estado para contrariar isto?

Vive à custas dos fundos comunitários e das remessas dos emigrantes!

Em França nós percorremos 500 Km de TVG, de Lyon a Paris, e todos os terrenos estão cultivados!

É esta uma das diferenças entre Portugal - a preguiça não anda por ai? - e os outros Estados.

Em Portugal não há ambição. As pessoas querem é um emprego do Estado! Mesmo que depois vivam no limiar da subsistência, mas com o deles certo ao fim do mês!Uma mentalidade mesquinha, medieval, securitária que os cerca de 50 anos de Estado Novo produziu e a fartura das colónias nos legou.

Eu sei do que falo. Fui funcionário público 10 anos e conheço bem a mentalidade.

" O trabalho não azeda", era uma das célebres frases que ouvia na Câmara Municipal de Évora, quando ali trabalhava.

Temos que ter outra atitude, apostar no risco, enfrentar o desconhecido. Lutar por algo melhor e diferente.

Os trabalhadores portugueses devem ter alegria a trabalhar, a produzir. As empresas devem atribuir prémios de produtividade. Premiar pelos resultados, fomentar a competição.


Só com muito trabalho, políticos responsáveis e modernos, menos Estado e mais iniciativa privada, mais educação e formação, mais capacidade de risco , nós podemos progredir.

Estar agarrado à manjedoura do Estado não é o caminho.

O Estado deveria trabalhar no sentido de as nossas terras serem cultivadas.Para sermos auto-suficientes em termos agrícolas.

O Estado, em termos de formação profissonal, deveria enviar para o Estrangeiro agricultores portugueses para aprenderem as técnicas de gestão das propriedades, terem aulas sobre mercados e exportação.

Temos de inventar novamente Portugal à luz das novas realidades.