José Maria Martins

Blogue do advogado José Maria Martins

sábado, agosto 06, 2005

A Caixa de Pandora

Na crónica semanal, e na edição de hoje, o arguto e experiente director do Jornal "Expresso" , teve a coragem de traçar um diagnóstico cru e duro, mas sumamente verdadeiro.
Escreveu:

"O problema principal do país , neste momento, são os partidos políticos.
Os partidos políticos estão a estrangular a democracia.(...)
Os primeiros-ministros já não têm força para resistir às próprias máquinas partidárias que os deveriam apoiar: são devorados por elas. As máquinas que os colocam no poder são depois as mesmas que os cercam e os paralisam, para poderem sugar mais à vontade o Estado"

É tão triste quanto absurdo e insuportavelmente verídico o que o director do "Expresso" diz.

O tráfico de influências , a inexperiência dos políticos portugueses, a corrupção que grangeia apoios, só estes factores justificam o estado em que o país se encontra.

Mas se toda a gente sabe isto, se este estado de coisas é conhecido na Europa, cabe perguntar porque não há quem lhe ponha cobro? A resposta é simples: porque não pode! Os partidos são os donos dos empregos nas Câmaras Municipais, na máquina do aparelho central do Estado, tudo controlam através de comissários políticos . Os portugueses votam mas não são livres. Tudo está na mão do Estado . O Estado está na mão do ou dos partidos que exercem o poder.É uma cascata de interesses onde todos estão envolvidos, seja qual for o partido do poder no momento.

É necessária uma nova postura dos políticos e uma diferente intenção no exercício da política: O sentido de missão na defesa da coisa pública, vulgo sentido de Estado , para engrandecer o país, e a ideia de que exercer cargos políticos não deve ser um tempo de favorecer os amigos que não tenham mérito, que não sejam os melhores em cada momento.

É absolutamente necessário que novos rostos, - competentes, empenhados, altruistas, movidos pela vontade de servir Portugal - jovens , ambiciosos, competitivos, patriotas, se empenhem na vida pública. Pessoas para quem o mandato político seja um desafio, um tempo de missão e nunca uma "oportunidade" para fazerem fortuna.

Esta preocupação ressalta do artigo de opinião de Vasco Pulido Valente , no jornal "Público" de 31/7/2005 quando escreve:

"Soares tem 80 anos, Cavaco 65. Parece que depois deles falta uma geração inteira.Onde se meteu a gente dos 40 e dos 50 anos, que deveria agora tomar conta do país, com força , com experiência e uma visão nova?".


Algo tem de ser feito porque este estado de coisas a continuar levará à intervenção das forças armadas, mais ano menos anos, estando a situação madura, como disse e bem o director do "Expresso", mas o facto de estarmos na União Europeia não é o seguro para todo o sempre .