José Maria Martins

Blogue do advogado José Maria Martins

sexta-feira, julho 08, 2005

Honra e vergonha

Honra à memória do grande e erudito deputado Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado da Agra de Freimas.

Homem de honra e vergonha que a propósito dos juramentos e da boa fé botou discursos na Câmara dos Deputados, de entre os quais cumpre agora citar o seguinte:

"Continuou Calisto:

- Sr. Presidente! Nos primórdios da humanidade, a boa fé dispensava os juramentos: hoje em dia , para tudo se faz mister jurar, porque a boa fé desapareceu velut umbra da face da Terra. Se bem me recordo, os casos de juramentos mais antigos lêem-se nas Sagradas Escrituras. Abraão jurou ao rei de Sodoma e ao Rei Abimelech; Heliezer a Abraão; e Jacob a Labão...

O presidente, como o riso andasse já contagioso na sala e galerias, observou:

- O Sr. Deputado está fora das prescrições do Regimento. Peço licença para o convidar a sentar-se do lado que lhe convier.

- Concluo em duas palavras - tornou Calisto - , conformando-me com o Regimento, e mais ainda com o jurisconsulto Struvius, o qual, no seu jurisprudentia civilis syntagma, diz que não deve exigir-se o juramento quando pode temer-se o perjúrio. Preceito de mui remontada moralidade,Sr. Presidente! Preceito cujo desprezo é causa eficiente das apostasias que desonram, dos sacrilégios que condenam a alma e estampam na testa dos preceitos lema de opróbio indelével . Disse."

Camilo Castelo Branco, In. A Queda de Um Anjo, pág. 39, Ed. Europa América , 2ª Edição.